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Revista Alceu prorroga chamada para o dossiê "Consequências das mídias digitais para as democracias na América Latina"

          Segundo a literatura especializada, são muitas as formas pelas quais as mídias digitais têm afetado as democracias em geral. A hipermidiatização da sociedade não somente transforma uma série de parâmetros tradicionais da informação política, da representação política, do debate público, da esfera pública e da opinião pública, como também apresenta uma variedade de elementos tecnológicos como algoritmos, robôs, plataformas de mídias sociais e softwares para o manejo de grande volume de dados.

          Nesse contexto, alguns autores sugerem, por exemplo, a superação do velho problema da "tirania da maioria", esvaziado frente à possibilidade da tirania de minorias constituídas na comunicação digital direcionada. Outros argumentam que a lógica da mídia digital favorece um relativo "estreitamento epistêmico" da esfera pública, reduzindo as chances do contraditório, fundamental para o desenvolvimento democrático. Alguns apontam para ao menos duas facilidades que as mídias sociais teriam proporcionado a plataformas antidemocráticas: comunicação direta com o cidadão, sem intermediários, e a capacidade de agregação de interesses difusos minoritários. Já muito avançadas ao redor do mundo, tais discussões ainda têm sido pouco abordadas nos diferentes contextos latino-americanos.

          A proposta feita aqui, com esta chamada (para acessar a versão em espanhol, clique aqui), é a de reunir trabalhos em torno do eixo teórico "Consequências das mídias digitais para as democracias na América Latina". O dossiê procura agregar estudos acerca desse tipo de impacto na região, debatendo como podem ser pensadas as diferentes eras da comunicação política e suas consequências específicas às democracias latino-americanas.

          Afinal, como se sabe, Blumler e Kavanagh descreveram, em um estudo clássico, três fases distintas da Comunicação Política: uma na qual a comunicação política está subordinada a crenças e instituições políticas fortes e estáveis; outra na qual se destaca um eleitorado mais volátil, com a profissionalização dos partidos e da comunicação política, adaptada aos padrões e formatos do noticiário televisivo; e uma terceira marcada pela abundância midiática, a intensificação dos imperativos profissionais, a crescente pressão competitiva, o populismo antielitista, um processo de "diversificação centrífuga" e transformações na forma como as pessoas têm contato com a política.

          Anos mais tarde, Blumler sugeriu uma quarta era da comunicação política, de uma abundância comunicacional crescente, uma tendência forte de midiatização e uma "diversificação centrífuga" mais intensa, com um conteúdo mais diverso, múltiplas vozes e audiências na esfera pública. Além disso, o autor apontou também para transformações paradigmáticas na difusão e utilização das ferramentas da internet, com consequências para os modelos tradicionais de comunicação política de configuração piramidal, em que o jornalismo político atua hegemônico na mediação da relação entre os políticos e o cidadão. Se, nas eras precedentes, a audiência foi especialmente caracterizada como receptores de comunicação institucionalizada, na quarta era da comunicação política, as mídias digitais permitiram a outros atores e grupos disputar a comunicação em um processo de descentralização crescente.

          Do ponto de vista das campanhas eleitorais digitais, alguns autores sugerem que as plataformas teriam entrado na fase da "hipermidiatização", marcada por três tendências: 1) a presença de uma classe profissional de tecnocratas com expertise em tecnologia da informação dentro das campanhas; 2) a incorporação de mídias que permitem segmentação, mensagens produzidas para audiências específicas e produção de conteúdo individualizado para as redes digitais; e 3) a maior incidência de decisões técnicas em relação à produção e ao consumo de conteúdo das campanhas. Dessa forma, o modelo moderno de comunicação política com base em pesquisas de opinião e a procura de maiorias deixou de ser o único caminho de sucesso para as campanhas, e a ideia de "tirania das maiorias" deixou de ser o único problema em jogo para as democracias.

          Ainda sobre esse tema, Roemmele e Gibson apontam para uma quarta fase das campanhas políticas, marcadas por quatro tendências: 1) transformações na infraestrutura e nas ferramentas de comunicação digital; 2) um incremento na perspectiva de rede na comunicação com o eleitor; 3) um foco na produção de conteúdo persuasivo mais individualizado; e 4) uma maior abertura das campanhas, em termos dos atores que buscam participar e influenciar nos resultados. As autoras também sugerem duas variações da quarta fase, que chamaram de "científica" e "subversiva". No primeiro caso, engenheiros de software, analistas de dados e especialistas em internet assumem funções estratégicas nas campanhas. Nesse modo "científico", modelos computacionais decidem onde, quando e como desenvolver as operações de campo, compra de mídia e ações de arrecadação das campanhas. O segundo caso é caracterizado por diferentes táticas e motivações, que enfatizam uma liderança personalista, a polarização estratégica, a comunicação direta com os eleitores, a emoção nos conteúdos da campanha, fake news, dark posts e desinformação.

          Novamente com o foco nas campanhas digitais, alguns autores trabalham com as noções de "equalização" e "normalização". No primeiro caso, novos atores e partidos ameaçam as posições políticas tradicionais, trazendo novas questões para o ambiente democrático. No segundo caso, atores e partidos mais estabelecidos têm maior probabilidade de sucesso dado o grande volume de recursos necessários para prevalecer no uso de vanguarda das mídias digitais.

          Sendo assim, o dossiê "Consequências das mídias digitais para as democracias na América Latina" está aberto para artigos, em português ou espanhol, que contemplem, entre outras, as seguintes questões:

  • As eras da comunicação política na América Latina e suas consequências para a democracia na região;
  • "Equalização" e "normalização" no contexto latino-americano;
  • Comunicação política "científica" e "subversiva" no contexto latino-americano;
  • Fake news e desinformação no contexto latino-americano;
  • Bots, segmentação e automação da comunicação política no contexto latino-americano.
  • Mídias digitais e populismo no contexto latino-americano;
  • A hipermidiatização, a diversificação centrífuga ou o sistema híbrido de mídia e a democracia no contexto latino-americano;
  • A informação política digital e a democracia no contexto latino-americano;
  • As mídias digitais e a esfera pública no contexto latino-americano;
  • As mídias digitais e o debate público no contexto latino-americano;
  • As mídias digitais e a opinião pública no contexto latino-americano.

EDITORES CONVIDADOS: 

Arthur Ituassu (PPGCOM PUC-RIO) e Carlos Muniz, Universidad Autónoma de Nuevo León (UANL)

Os artigos podem ser encaminhados até 30 de novembro de 2022, através da área de submissões.

 

 


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